Lavei a cara, tudo ficou mais gélido, a tua ausência chegou. Se soubesses o
quanto detesto isto todas as manhãs. É sempre o mesmo, sempre a mesma rotina,
sempre os mesmos pensamentos. Detesto manhãs. Detesto, detesto-as mesmo!
Hoje acordei com o sabor doce dos teus lábios, apesar de já não os saborear.
Acordei com a tua voz entranhada nos meus ouvidos. Ainda tenho em mente todos
os teus sussurros... Hoje, quando abri os olhos, vi-te ao meu lado. Que saudades,
que espelho da alma... Senti o teu afago enquanto me vestia. ‘’Volta para a
cama, fica só mais um bocadinho’’, dizias tu. ‘’Queres partilhar o chuveiro?’’,
continuavas.
Tomei o pequeno-almoço. Na minha cabeça, o som da colher a bater na chávena
enquanto envolvias o açúcar no café, ainda existia. O som irritante do espalhar
da manteiga nas torradas, ainda era uma afronta ao meu mau acordar.
Saí, fui trabalhar. Enquanto dia de trabalho, consegui distrair-me de ti, por
segundos apenas. O telemóvel tocou. ‘’É Ele numa das suas mil mensagens a
transmitir o quanto me ama. É ele!’’, pensava eu. Lamentavelmente, não eras tu.
Já não eras tu há muito tempo… Relativo, subjectivo, que passou a certo quando
te foste embora.
O trabalho acabou. Fui directamente para casa olhar as
fotografias que de nós restaram. Já nem ali nos completávamos, apesar de todos
os sorrisos harmoniosos, e das caretas feias, das expressões apalhaçadas e dos
beijos trocados só para ficarem cravados no papel. Já não fazias sentido em
mim, porque já não eras parte de mim.
Passei das fotografias para as músicas... Todas elas
contavam uma história, faziam com que me lembrasse dum momento específico: Duma
tarde à beira mar; dos fins-de-semana passados a namorar ou a discutir. Amor e
ódio, andam sempre de mãos dadas, e nós fomos isso… Momentos bons e momentos
maus; músicas que faziam com que me
lembrasse dos nossos jantares. As letras
deprimentes que faziam saborear as lágrimas salgadas que me caiam nos lábios; músicas
encantadoras que faziam com que eu me transportasse para as noites quentes,
passadas a ver estrelas no pátio; Músicas que ouvi quando te conheci. Sobretudo,
músicas que absorvi quando foste embora.
Finalmente, cansei-me. Ou infelizmente, será?
Fui jantar. Comi massa, para variar. Aquele toque
apimentado, fez-me recordar o quão mal falavas quando sentias o paladar da
malagueta.
Agora estou deitada, no meio desta turbulência de emoções.
Não sei se contente, se triste. Não sei se eufórica, enérgica ou sem força. Não
sei se quero dormir e sonhar contigo ou se quero simplesmente ficar aqui,
acordada, a pensar em ti.
Horas perdidas. Sentimentos escondidos. Palavras
vazias.